sexta-feira, 7 de setembro de 2012

d'après botticelli




D’APRÈS BOTTICELLI


Frases brunas – duras, mármore –
inoculavam paz na imagem
Também elas, paz e imagem,
mármore, burla

Mas um rio - seus olhos entreabertos
seus lábios entreabertos, lúbricos -
cobriu-as com as águas do místico fluxo
e um cardume de peixes alados
ao ar levou o silêncio e à pedra
fez pele

Logo
das asas translúcidas
desprendiam-se lentas gotas
e sem que se pudesse ver
transmutavam-se em grãos de pólen
velados murmúrios
caindo mais lentos
num raio de sol - um único
o primeiro

E então
no súbito milagre
você estava.


ALBERTO BRESCIANI (poema de Fisiologia do amor anaeróbio, inédito)

Imagem: Mares do mundo, de Rosana Ricalde  

6 comentários:

  1. Concordo com o Vagner: um verdadeiro alento feito de asas translúcidas e murmúrios velados.

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  2. Amei as lentas gotas que se transformavam em grãos de pólen! Deve ser fantástico encontrar alguém no súbito milagre! Parabéns!

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  3. Obrigado, Sandra e Basilina! A amizade de vocês prestigia!

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  4. como bem disse o Vagner, é um alento. e foi exatamente assim que me senti ao ler (diversas vezes) esse belíssimo poema: confortada, feliz.
    Alberto, meu amigo, outro dia me peguei pensando: será que, um dia, esse poeta escreverá um poema que não agrade? lógico que mandei o pensamento às favas. é sina (sua) escrever bonito.
    beijo.

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