(pra nunca mais falar disso)
No começo era doce, como delicada sobremesa que se saboreia com gosto e desliza garganta abaixo, aveludada e macia.
Mas a receita desandou sob as mãos pesadas de tanto mexer panelas. E os ouvidos, como os de um mercador, acostumaram-se à cantilena irritante de vincos tortos e colarinhos amassados.
Os olhos ficaram baços e os lábios perderam o brilho, esquecendo-se do primeiro beijo e dos agarramentos ao pé da escada.
E o que era doce acabou-se em travo, de fruto verde e amargo.
A casa, outrora alegre, agora abria-se aos conselhos de qualquer tia que, a pretexto de visita, só sabia contar do casamento desfeito de uma prima e de como, na família, mulher largada tornava-se propriedade coletiva.
E o que era doce acabou-se em medo.
Todas as vontades de recomeços se perderam nos vãos ordinários das madrugadas e o que restou foi lembrança pequena e morta, sepultada de qualquer jeito sob a lápide muda de um colchão de molas.
E o que era doce acabou-se em nada.
mariza lourenço
No começo era doce, como delicada sobremesa que se saboreia com gosto e desliza garganta abaixo, aveludada e macia.
Mas a receita desandou sob as mãos pesadas de tanto mexer panelas. E os ouvidos, como os de um mercador, acostumaram-se à cantilena irritante de vincos tortos e colarinhos amassados.
Os olhos ficaram baços e os lábios perderam o brilho, esquecendo-se do primeiro beijo e dos agarramentos ao pé da escada.
E o que era doce acabou-se em travo, de fruto verde e amargo.
A casa, outrora alegre, agora abria-se aos conselhos de qualquer tia que, a pretexto de visita, só sabia contar do casamento desfeito de uma prima e de como, na família, mulher largada tornava-se propriedade coletiva.
E o que era doce acabou-se em medo.
Todas as vontades de recomeços se perderam nos vãos ordinários das madrugadas e o que restou foi lembrança pequena e morta, sepultada de qualquer jeito sob a lápide muda de um colchão de molas.
E o que era doce acabou-se em nada.
mariza lourenço
[imagem george marks]
Mais um belo, inspirado texto, Mariza! Muito bom!
ResponderExcluirLiteratura se faz, sobretudo, com experiência e com duas pitadas: uma de doce, outra de amargo... Parabéns!
ResponderExcluireis tudo.
ResponderExcluirLindo. ha uma beleza extrema na melancolia de um amor acabado... e uma certa promessa e esperança. Beijos
ResponderExcluirlindo, triste e tão real!
ResponderExcluirPrimor.Mariza!Parabéns por tão bela obra.Meus carinhO...
ResponderExcluirPrimor.Mariza!Parabéns minha qrida,por tão bela obra.Meu carinho e admiração...
ResponderExcluirAmores que se vão, sempre melancólico.
ResponderExcluirSeu modo de tecer a trama encantou-me!
Parabéns poeta!
Marta Peres
Muito legal.
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