terça-feira, 6 de novembro de 2012

estações do vazio


ESTAÇÕES DO VAZIO

I
A tristeza adere à pele (como o nome, tão fixa como as facas da fome e da morte, como não caber onde somente se pode estar). O silêncio nos teus dedos, nosso inesgotável alheamento, as imperfeições no meu rosto compunham todo o líquido que me verteu. Não se expulsa o tempo escrito. Nem o medo
II
me salva. O frio ainda rasga e chama para além da janela. Lá, a noite fere. Essas horas bêbadas de ausência, não, não as quero. A descrença, o que vou perdendo pelos dias que seguem e nunca são meus. Pouco nos sobra
III
enquanto se respira. Guardo tua imagem ao cair da tarde. Nessas horas sem feições. Delas me apossei à falta de quem as quisesse. Vaga a imagem sob a turvação e o fogo do que não é, no fundo mais fundo do que me descreve. E quando o tempo me lembra, morrem os grãos que germinavam na pele. E prometiam. Volto ao que não retiro do antes, antecena que não nos aceita. É o que me desguarda e retém. O relógio estanca.


ALBERTO BRESCIANI


Imagem: Lone bird, Thrifty, Google

7 comentários:

  1. ah... não sei. são do livro que não publicarei. generosidade sua!

    ResponderExcluir
  2. Puxa vida! Este trecho aqui :"E quando o tempo me lembra, morrem os grãos que germinavam na pele. E prometiam. Volto ao que não retiro do antes, antecena que não nos aceita."é pano pra muitas mangas. Alberto sempre a um passo adiante...no limite do mais. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Pois é, Alberto, "não se expulsa o tempo escrito". Muito mais que muito bom. Tony Saad

    ResponderExcluir