quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

transfiguração

magnificat

comecei a sangrar aos dezoito dias de março de mil novecentos e oitenta e nove. dezessete e trinta e cinco. em dias que antecederam a ressurreição. quando Jesus, Maria e José vestiam-se de roxo e meu vestido era branco. alguma coisa emprestada. alguma coisa azul.

só sei que o sangue era lento e farto.

só sei que era dor e, depois, nada. e que retornou, sucessivas e incontáveis vezes. até eu não me importar.

quarenta dias e quarenta noites de jejum. e no deserto o pecado roeu meus ossos. e em minha cama a carne se desfez.

e um verbo entranhou-se às paredes de meu útero. e depois dele, o outro.

nunca mais pari.

só sei que durou dez anos.

e que meus olhos ainda vertem o sangue transformado em água.


mariza lourenço


[imagem aeternitatis-tristis]

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