SOBRE COMO ESTAR DESERTO
I
Em modo mudo é impossível
a emboscada - anestesia
de predador e presa
O neutro
Nem bom, nem mau:
seca
II
No ventre, o excesso
de números, símbolos sem calor,
espessura e trama
das letras
(numerais espalhados sobre eras de gelo
expressando intransponíveis léguas
dali ao fundo, ao topo,
datas, contas, relatórios
de perdas)
Por acaso e traição da luz
o olhar recai sobre a tela
do celular:
à semelhança de insetos em fuga
fragmenta-se o reflexo
em mil pedaços de dúvida
elétrons de nadas
III
Procuram-se outros prisioneiros
de estações em branco
para o alerta:
durante as migrações
crocodilos devoram os tolos
perdidos
da manada.
ALBERTO BRESCIANI
Imagem: O Lago da Meia Lua, de Michel Pochet
Como sempre.... sensível, bjs Zuzu
ResponderExcluirComo você, que pode perceber, Zuzu!
ExcluirSensível e profundo.
ResponderExcluirParabéns!
Gentil sempre, Amanda!
ExcluirComo é bom ler o que escreves...
ResponderExcluirSensibilidade é com você mesmo! Parabéns!
Que bom ser lido por você, Lud!
ExcluirA mim me parece uma perfeita descrição do período de seca em Brasília, com grande realismo e sensibilidade.
ResponderExcluirMereaim.
Como é difícil a aridez da comunicação fácil quando é difícil...
ResponderExcluirNão é?
Obrigada pelo interessante poema.
Ô! Se é! :-)
Excluirafinal, poeta, somos todos tolos prisioneiros de alguma coisa perdida entre o deserto e a dor.
ResponderExcluiradorei. lindo, lindo poema.
Existem oásis, não Mariza? Uma palavra cai como chuva!
Excluir