Quando no céu a lua muda, despontando barriguda, a moça se veste de negro e recita seus encantos, para o amor segurar:
Se comigo ele não fica com ninguém há de ficar.
E ele, que dorme inocente, não sabe explicar o que sente quando lhe ataca um desejo, que vai do peito ao baixo-ventre.
Se comigo ele não fica com ninguém há de ficar.
A moça ri -- escandalosa -- e invocando os benefícios dos deuses, despetala uma rosa, enquanto come uma fruta, cheia de tesão e de gula:
Se comigo ele não fica com ninguém há de ficar.
E o moço -- agoniado -- salta da cama, aparvalhado, abre portas e janelas, tira as roupas, sai ao relento, tentando dar cabo de todo o tormento.
Se comigo ele não fica com ninguém há de ficar.
Pia lá fora a coruja, crocita o corvo, gemem as estrelas com dores de parto, a noite estrangula os sonhos decentes, da fruta, a bruxa engole o último pedaço:
Se comigo ele não fica com ninguém há de ficar.
Dez pancadas na porta, um grito desesperado, a moça desce as escadas para receber seu amado. Ele entra -- parece um demônio -- e sem dizer nada lança-a ao chão, mordendo-lhe a boca, cheio de fúria e paixão.
Se comigo ele não fica com ninguém há de ficar.
E desta vez quem gargalha é a lua, cúmplice de toda mulher...
E de bruxa!...
mariza lourenço
U-A-U! Esse é de rasgar, Mariza!
ResponderExcluirUm conto-poema-roteiro! "'Dorei"!
ResponderExcluirAzar ( ou sorte ) de quem essa moça amar. Beijo
ResponderExcluir