quarta-feira, 21 de novembro de 2012



CÓSMICO

Caminhava em direção ao bar onde aconteciam os encontros. Falavam de livros, escritores e um pouco ou muito de próximos ou distantes conhecidos. Viu a amiga e o amigo. Os dois,  elegantes, contrastavam com o cenário. Nela, um brilho descia pela silhueta curvilínea, um vestido preto combinava com a pele branca, os cabelos também pretos, batom vermelho. O amigo estava de terno. Terno preto. Os dentes claros também nele brilhavam na boca de recorte inglês. Conversavam com cumplicidade, com fome, como se agarrados ao fio terra dos solitários, aos altos e baixos dos que conhecem os interstícios da dor. A noite já ia caindo. Não conseguiu atravessar a rua. Veio o receio. Olhava os dois com admiração. A verdade que lhe ia por dentro redimiria a falta à hora marcada. Ainda assistiu à cena por um bom tempo. Não conseguia mover-se. A cumplicidade do genuíno bem querer confortava-lhe o peito. Era como um abraço cósmico e, no instante, não tinha fim. O medo de perder aquilo, todas as suas chances, o favor que o destino trouxe naqueles dois. Virou-se. Demorou um pouco, mas voltou a dormir.

ALBERTO BRESCIANI

Imagem: Google, Man in black and white

12 comentários:

  1. Respostas
    1. Gentileza do amigo - mas orgulho pelo comentário do mestre...

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  2. "...agarrados aos altos e baixos dos que conhecem os interstícios da dor." - simplesmente perfeito!

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  3. perspicácia para agarrar o tênue! maravilha!

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  4. Que lindeza, Alberto, redondo, fechado, prontinho para entrega (mas posso ver nele também o início de um romance, se você encarasse um folego mais longo). Abraço e beijo desta sua fã.

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  5. Sandra, Flávia, Lázara, Angélica e Mariza!!!??? É para me achar?

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  6. É pra se achar sim. Texto perfeito, pleno de sentimentos ocultos e, curiosamente, explícitos também. Brescianicamente perfeito

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