MATRIZ DA PERDA
E se a noite quebrasse a janela
e entes ardendo em feromônio
rasgassem fendas sono
e nos cobrissem de pó
− cerimônia xamanista
de fertilidade e fusão
E se a tua boca quisesse mais do que som
e a minha à mesma hora também
E se não houvéssemos
arrancado as vinhas
enterrado sob os lajedos
cada vértice do desejo
(pensava sob a hesitante sombra
da árvore de fruta-pão)
Olhava-a agora ausente
ela enterrada na dissidência amarga
no rancor tão tolo
Dizia ao tronco vivo:
o amor nunca prometeu nos salvar
nunca prometeu nada a ela
amor não salva
não precisávamos de razões
Era para ser
violentamente que fosse
não nos tivéssemos enfaixado
com tantas possibilidades conjecturas
medos e imprecisões
: sobe pelas pernas o barro frio
acresce toneladas às sandálias de borracha
arrastadas com esforço
para nunca deixarmos de lamentar
com desgosto
o nosso exílio
(como em “Luto doce”, de Tatiana Morais)
ALBERTO BRESCIANI
Imagem: Lonely eagle de thatryguy2009.deviantart.com
"Dizia ao tronco vivo:
ResponderExcluiro amor nunca prometeu nos salvar
nunca prometeu nada a ela
amor não salva
não precisávamos de razões"
Simplesmente lindo!
Adorei a poesia indicada pela Doce Tatiana da àguas
ResponderExcluirSempre poemas lindos. Seleção impecável, como este. Sempre um prazer visitar este blog.
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