terça-feira, 11 de junho de 2013

flagrantes

O menino aproximou-se do carro bacana como quem pede desculpas e a mulher ao volante, com cara de nojo, pisou fundo no acelerador e seguiu para casa. Sem ânimo, passou o resto do dia se entupindo de bombom, uísque e remorso.


***


O sol invade a casa com jeito de festa e domingo. No quarto, fedendo à cachaça, o homem vira de lado, solta um arroto e continua dormindo. A mulher, de olhos vermelhos, passa um café bem amargo enquanto cozinha o galo.

É sábado.


***


- Nesta casa não se tranca a porta? Com tanto ladrão por aí!

Silêncio, cisma e cheiro de flor. Que nem existia. Só na parede, numa reprodução que ela havia comprado em Paris.

O medo eriçou-lhe os pêlos. Sua mãe sempre lhe dizia que sentir cheiro de flor ausente é prenúncio da própria morte.

O cheiro vinha do quarto e as rosas estavam todas lá, espalhadas pelo chão. E sobre os corpos que fornicavam feito animais. 

Ela e um estranho.

Voltou à sala e desabou - aliviado - sobre o couro macio da poltrona. Arrancou a gravata e serviu-se de generosa dose de scotch.

Legítimo!


mariza lourenço

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