quarta-feira, 31 de julho de 2013

a musa e o amor



a musa fala: 

ele escrevia compulsivamente. certamente, o excesso desculpava a timidez. (e a ausência de voz). quando escrevia não me dirigia palavra. e ele escrevia muito. o tempo todo. 

tudo é teu, afirmava. 

para mim: os pequenos e delicados contos. os poemas de rimas perfeitas. e as imagens de um amor que, até então, só se consumara no papel. 

meu corpo era o mais bonito. minha pele a mais branca. meus olhos a verdade encarnada. em seus versos eu nascia todos os dias para protagonizar uma existência idílica. 

eu era sua musa. e assim permaneci até o dia em que tentei trazê-lo para meu mundo de imperfeições. até o dia em que tentei fazê-lo conhecer os deslizes da minha alma e os caminhos, nem sempre retos, das minhas vontades. 

ele continua escrevendo compulsivamente e sua amada ainda renasce diariamente em uma história de amor-perfeito.

(e como sinto falta do amor que não vivi)


mariza lourenço
[imagem de irene shpak]

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