domingo, 26 de abril de 2015

respiração e asfixia na poesia de André Luiz Cosme Ladeia


 
 
 
 
RESPIRAÇÃO E ASFIXIA NA POESIA DE ANDRÉ LUIZ COSME LADEIA

 

 NASCIMENTO

 

 Quando nasci

 A morte

 Veio me visitar

 E me presenteou

 Com seu relógio negro

 

 O coveiro que fez meu parto

 Me benzeu

 E depois

 Começou a preparar a minha lápide

 

 As bailarinas dançavam

 Com a morte

 Ao som de uma música lúgubre

 

 Os sinos badalaram

 Para comemorar o início

 Do meu enterro.

 

 TORTURA

 

 A gota d´água caindo devagar,

 A luz ligando e desligando

 Ininterruptamente

 O choque frio

 A unha sendo retirada

 A cabeça mergulhada

 A dor, a sede, a fome,

 O espelho

 

 GUERRA

 

 Na Guerra

 Os homens

 Carregam

 Os

 Mortos;

 

 As mulheres,

 As crianças;

 

 Os nômades,

 As sacolas;

 

 Só a vida que é

 Deixada para trás

 

 CHARRETE

 

 Nas viagens

 Os turistas

 Se vangloriam

 De seus passeios sádicos

 Com os cavalos

 

 e os trabalhadores

 exploram

 os

 turistas

 que

 exploram

 os

 cavalos

 

 A verdade

 É que sempre haverá alguém

 Com freio na boca

 E um chicote.

 

ANDRÉ LUIZ COSME LADEIA é poeta e procurador municipal. Autor de Suave como a morte (Editora Penalux, 2014).

 

 

 Imagem: Another sad man, by Melek

 

2 comentários: