Para escrever é necessário
silêncio
(vocês gritam demais)
É necessário certa imobilidade
Alguma quietude, não dá para
Participar de um número circense
Enquanto com a outra mão
escrevemos
Quando escrevemos estamos
deslocados
E vocês pedem mais participação
Nos negócios
Não é possível!
Escrever ainda é buscar uma
argila
Uma cunha
Ainda é encontrar uma caverna
Carimbar a mão de tinta.
O que faremos aqui embaixo?
(este, por um acaso, é um livro
de perguntas?)
Há um elástico se esticando ao
máximo
Testando todos os seus limites
Quem olha sente medo
Sabe que está prestes a
arrebentar
Dizem que toda a vida da espécie
Depende deste elástico
funcionando
Deste elástico infinito, que tem
Fim
Quando ele arrebentar, quem
saberá subviver
Se não aqueles que já subvivem?
Quem saberá perder tudo
Se não aqueles que já perderam?
Não são as coisas que são minhas
Eu é que sou das coisas
Por isso prefiro que me tenham
Apenas as necessárias
Elas olham para mim e me dizem
Quero tudo
E tomam o único bem que tenho:
Meu tempo.
Tudo está se interligando de
maneira única
Imagine: poderemos levar o bem e o mal às suas últimas consequências
Depois que passamos por aquelas
duas cidades
Depois que estivemos naquela
prisão
Tanto aprendemos, já não há quem
não saiba
Os livros estão abarrotados de
nossa sabedoria
Não é possível que estejamos
regressos à beira do
Marco zero
É novamente o melhor e o pior dos
tempos,
Dickens.
Adriane
Garcia é poeta, nascida e residente em Belo Horizonte. Publicou Fábulas para adulto perder o sono
(Prêmio Paraná de Literatura 2013, ed. Biblioteca do Paraná), O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura,
2014), Só, com peixes (ed. Confraria
do Vento, 2015), Embrulhado para viagem
(col. Leve um Livro, 2016) e Garrafas ao
mar (ed. Penalux, 2018).
Imagens: Google. A segunda e a terceira fotografias são de Sebastião Salgado.
Imagens: Google. A segunda e a terceira fotografias são de Sebastião Salgado.
Uma das belas e potentes vozes da poesia brasileira hoje.
ResponderExcluira Adriane sempre nos surpreende com a beleza de seus versos e a potência de suas palavras.
ResponderExcluir