retorno à blogosfera após uma longa 
ausência. isso aqui me fazia falta. e não teria me atentado para esta falta não 
fossem os outros dois de NÓSTRES, muito amigos e culpados pela 
minha decisão em voltar.
e, então, eu retorno com alegria, e sob o 
peso da responsabilidade da divisão deste espaço com dois homens absurdamente 
talentosos. não bastasse isso, Alberto e 
Vagner resolveram que devo inaugurar as postagens individuais. 
cavalheiros demais, não é? também acho. e eu me vingarei, oportunamente. hoje, 
no entanto, minha obrigação é não fazer feio. *;)
o texto escolhido para minha primeira 
postagem não é inédito, já foi premiado, anos atrás, com o primeiro lugar em um 
concurso literário. mas se o escolho hoje é por um motivo muito especial, o 
de dedicá-lo a Alberto Bresciani, nessa data 
querida.
parabéns, Alberto. 
muitos dias novos, muita poesia e todas as alegrias. segura, poeta, que esse 
conto, agora, é seu:
ano novo, vida 
viva
(Uma 
fábula)
"Muitos riam da transformação que se operara nele, mas pouco lhe 
importava o riso dos outros, pois bem sabia que nunca neste mundo se fizera 
alguma coisa boa que não fosse acolhida com sorrisos por certos homens, e tinha 
suficiente senso para perceber que nesses tais, cegos por sistema, o riso é uma 
doença, ainda assim das menos repelentes". [Charles 
Dickens]
Desenganada pelos 
médicos, ela que tratasse de aproveitar a vida, porque dias não lhe restavam 
muitos. 
Quedou-se num mutismo 
absoluto, logo ela, tão moça ainda, cumpridora fervorosa dos mandamentos, que 
vivia de ajudar os pobrezinhos e nunca freqüentara leito alheio. 
Que destino mais 
besta.  
Às dúvidas, que 
jamais seriam satisfeitas, seguiram-se revolta, dor e, finalmente, o desejo 
subversivo de fazer planos para um futuro inexistente e, de ponta-cabeça, 
quebrar todos os espelhos, empanturrando-se de azar pelo que ainda lhe restava 
de vida. Se a castidade não lhe garantira longevidade, que morresse mal-falada. 
Deixou a bíblia de lado, pendurou o terço no guarda-roupa, encurtou as saias, 
decotou todas as blusas, às escondidas bebeu do vinho consagrado, mastigou o pão 
que era da igreja e, delícia das delícias: comungou sem confissão. Aos olhares 
incrédulos dava de ombros. Às reprimendas respondia com palavrões. Nunca fora 
tão popular. 
Certo dia, porém, 
coincidentemente, o último do ano, sentiu-se cretina e exausta. Era a morte que 
se aproximava. Preparou a própria mortalha, do guarda-roupa retirou o velho 
terço, abriu o evangelho e esperou que sua hora chegasse. E chegou, 
estranhamente parecida com ela mesma. Talvez fosse sempre assim, para derradeiro 
conforto dos moribundos, que a Morte lhes buscasse com cara conhecida: 
— Pronta? 
— Sim, mas antes, 
eu... 
— Maria Alice, não 
tenho tempo!  
— Maria Alice? Não me 
chamo Maria Alice... Sou Teresinha. 
— Ora, me enganei de 
novo. Ando cansada. 
— Isso significa o 
quê? Que não vou morrer? Ai, Jesus!
— Alegre-se. Quem, 
como você, ante a perspectiva do fim pôde mudar tudo? Ou viver duas vidas em uma 
só?... Situação atípica. Moça de sorte. 
— Mas o que eu faço 
daqui pra frente? Afinal, o erro foi seu! 
A Morte lhe sorriu, 
impaciente: 
— Só me faltava 
essa... Ensinar alguém a viver. 
Deixou que a Morte 
fosse embora e, pela segunda vez, quedou-se muda, pensando no que faria para o 
resto de seus dias que, agora, lhe pareciam muitos: "Que vergonha, meu Deus. 
Nunca mais hei de sair às ruas." 
E quem resiste à 
entrada de um novo ano? Ela, que vivera todas as faces da mesma moeda, que 
deixara de ser títere, para comandar as próprias alegrias e tristezas, por 
certo, não resistiria. 
Tão logo a passarada 
anunciou a chegada da aurora, a jovem convenceu-se de que não teria quarta 
chance. Livrou-se da mortalha e, nua, como criança recém-parida, saiu ao sol.  
A vida, que sempre 
lhe metera medo, parecia-lhe agora um gostoso movimento de xadrez. 
Ela que aprendesse a 
jogar.
mariza lourenço
[imagem 
stefano bonazzi]
 

 



Belíssimo conto. Presente merecido ao poeta que ensina a jogar o jogo da vida. Parabéns!
ResponderExcluirei Ana, obrigada! o poeta merece!
ExcluirE sigo procurando palavras para agradecer, Mariza, talentosa amiga, mas não as encontro! Sim, a vida está viva como neste conto que deixa transparecer a sua sensibilidade, a sua criatividade, a poesia que leva consigo... Repito, há seres alados ao meu redor! Obrigado de coração!
ResponderExcluirnão tem o que agradecer, Alberto. é um presente do coração.
Excluiruma vez mais, parabéns nessa data especial e bonita.
beijo.
Parabéns, Alberto, amigo mais que querido! Lindo conto, Mariza!
ResponderExcluirgrata, Vagner, pela parte que me toca.
ExcluirCada ano de vida completado é mais um retorno do sol ao ponto inicial do nosso mapa astral.Um recomeçar,um re-nascimento,depois do periodo de sombra do chamado inferno astral.Assim como o conto dedicado a Alberto,é uma etapa que se renova,depois de um periodo de desalento.Nada mais apropriado para um aniversariante poeta,como noso amigo.Parabens Mariza,parabens Alberto!
ResponderExcluirpois é, Teresa, o conto-presente remete à renovação. *:)
Excluiro dia é do Alberto, mas também agradeço a manifestação ao meu conto.
um beijo.
Obrigado, muito caros Teresa e Vagner! Não há inferno astral que possa com amigos dessa qualidade!
ResponderExcluirCaro Alberto, aproveito o espaço para me associar à justa homenagem! Parabéns!! Muita saúde!!
ResponderExcluirMuito obrigado, Paulo!
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