sexta-feira, 24 de agosto de 2012

terapêutica



TERAPIA
“A faca na mão. O marido de costas. A faca. O homem debruçado. A faca...” (Jairo     Vianna Ramos, in “Lágrimas no Assoalho”)
Ele nunca me agradeceu por nada. Nunca foi gentil. Nem quando éramos namorados. "Isso não é coisa de macho", dizia. Eu acreditava: homem é isso. Era boba. Mas as coisas só pioraram. Ele gritava. Faltava me bater como batia nos meninos... É... Batia. Eu, na cozinha. Vivia no tanque, carregando sacola pesada de feira. Nem sabia mais de homem. Ele gritava. Quando engrossou que a comida era coisa de uma burra imprestável como eu, o sangue subiu. Peguei um espeto de churrasco e plantei nas costas dele. Carne mole. O sangue encheu o prato. Não me arrependo não. Viu, Gerilza? Viu, Laurão? Pelo menos aqui na cela eu tenho o carinho de vocês.


DESVIO DE ROTA
Comprou o terreno. Caríssimo. Os filhos crescendo. A casa em construção. Os filhos cresceram. A casa em construção. Os filhos partiram. A casa estava pronta. Segurou a mulher pela mão, vendeu a casa, comprou uma quitinete no Leblon. Todos os dias, caminham pela orla. Ninguém lhes dá a idade que têm.


O MARAJÁ DE BARODA
Que culpa tinha ele se amava todas elas?


ALBERTO BRESCIANI

Imagem por prison sentence

27 comentários:

  1. 'dorei'.

    e gostei mais ainda do Marajá de Baroda.

    ResponderExcluir
  2. DESVIO DE ROTA é ótimo. Adorei.
    Bernadette

    ResponderExcluir
  3. Lerei o "TERAPIA" na aula de Ética Profissional de hoje (24.08.12). Será um grande impacto comparativo.

    ResponderExcluir
  4. PUXA, VIDA! Cada vez me surpreendo mais. Muito bom mesmo!

    ResponderExcluir
  5. Em terapia eu me vi ali, senti como se ali estivesse, deu até medo desse marido.
    Excelente!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tenho certeza de que você nunca estará lá, Ludmila!

      Excluir
    2. Gracioso :) Nunca mesmo! Mas você tem o dom de fazer a gente ir para "todo e qualquer" lugar com suas palavras, querido!

      Excluir
  6. o Desvio da Rota é muito bom! Mas,realmente precisa ter coragem para praticá-lo ...
    Cá pra nós, se minha comida fosse também questionada praticaria Terapia.
    Abraço e parabéns! Cida

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sempre podemos desviar as rotas lentamente, Cida. Creio que você já tem a receita!

      Excluir
  7. Terapia está um primor. Na veia, como todo mini, na minha visão, deve ser.
    Parabéns! Clauder Arcanjo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Clauder! Vindo de quem também entende de minis, fico feliz! Um abraço!

      Excluir
  8. Muito bom, como sempre!

    ResponderExcluir
  9. Ótimos mesmo, mas Desvio de Rota é o meu preferido, sem dúvidas. Inspirador...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amanda, as rotas não são definitivas. Sempre há a chance.

      Excluir
  10. Li e gostei dos três, em especial de O Marajá de Baroda que rivaliza com o impagável e famoso micro conto O Dinossauro (Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá), de Augusto Monterroso. Parabéns, caro Alberto, dalila teles veras

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caríssima Dalila, a sua visita é muito honrosa! Obrigado. É: marajás são entidades possíveis (rs).

      Excluir
  11. É claro que, com o meu sangue latino, me identifico com o "Terapia"! Adorei!

    ResponderExcluir
  12. ah se todos soubessem o bem que faz um desvio de rota! excelente!

    ResponderExcluir