quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

[...]

ELA

ontem ela me visitou. há muito tempo não vinha. chegou do jeito de sempre: sem aviso. sentou-se e ficou olhando para o quadro à sua frente. uma mulher relativamente pequena; relativamente jovem; relativamente bonita; uma qualquer coisa incompleta tinta de sangue.

e dor.

pedi que me deixasse colocar a cabeça em seu colo. ela deixou.

afundei meu rosto em seu regaço e encharquei seus panos com meu choro. perguntei-lhe se, desta vez, ela me levaria embora. ela sorriu e trançou meus cabelos. ela sorriu e beijou meus olhos.

pedi-lhe que abrisse meu peito com seus dedos de desatar lembranças.

implorei que apertasse meu coração até senti-lo escorrer inteiro.

ela continuou sorrindo, enquanto acariciava meu corpo com suas mãos de sono eterno.

acordei sozinha, muitas horas depois. dela não havia vestígio.

não suspirei aliviada, como das outras vezes.

e, como das outras vezes, não desejei que não voltasse.

nunca mais.



mariza lourenço


[imagem ©imxanxillusion]

4 comentários:

  1. há pessoas que são mágicas em nossas vidas... sendo relativamente qualquer coisa, elas chegam e viramos absolutos.

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  2. muito bom.
    ainda hohe comentei ocm um amigo sobre dois sonhos recorrentes que venho tendo.
    num, eu fumava um cigarrim e ficava putaço por ter que começar "tudo de novo"(eu parei de fumar no dia 1º de dezembro do ano passado).
    é um alívio, quando acordo.
    no outro, sonho que choram minha partida definitiva.
    e, quando acordo e vejo que ainda não fui (desta vez), costumo chorar de alegria e alivio.
    ô, eu gosto daqui.

    beijão do

    r.

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