quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013



SEM SINALEIRO À MEIA-NOITE

(cenário)
Atravesso a rua de mão dupla
trânsito agudo e feroz

(1ª opção)
Volto-me à música
que sopra de sua boca
e não resisto
ao gosto forte da pele

É fácil crer

(2ª opção)
Mergulho no vácuo de três mortes
e saio sem cortes
– visíveis –
de seus dentes

Do outro lado
sempre é passado

(3ª opção)
Escolho a contramão
de meu peito
antes que venha a hora
de bater o ponto

Estou limpo
(as)cetivamente findo

(nota do A.)
Só rua e travessia são reais:
o personagem em ruínas
quando muito
se esgota em letras.


ALBERTO BRESCIANI


Imagem: Google

8 comentários:

  1. Nota de leitores:
    Não há teoria que não seja um fragmento de uma autobiografia, diria Paul Valéry. Umberto Eco prefere dizer que se a linguagem não servisse para mentir não serviria para nada.
    Fico com todas as opções.
    Belíssimo retorno, Alberto!

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    Respostas
    1. E, afinal, o poeta "chega a fingir que é dor a dor que deveras sente"!

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  2. Estava com saudade dos seus textos, amigo Alberto. Sejam eles poemas ou minicontos. Este é um trabalho de origami: o resultado é belo, mas o segredo está nas dobraduras. Um abraço e parabéns!

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  3. suponho, suponha: somos personagens em ruínas. o esgotamento vai além. transborda as letras e o papel. ao final, os escombros nos colocam em rota de colisão. não é ótimo?
    (a bem da verdade, ótimo é seu poema)

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