houve uma
vez um verão
fumava minister
usava azzaro
mascava ping-pong
seu nome no obituário antigo
lembrou-me o caminho da ilha
a árvore com nossas letras
entrelaçadas dentro de um coração
quem recolheu suas asas, meu anjo torto?
quem contou suas fraturas, catou os ossos?
guardo para sempre
os estilhaços que vi em seus olhos claros
na hora da despedida
um gosto de naufrágio
o coração submerso
o lenço vermelho — inútil patuá
a tristeza é um passarinho que não sabe voar
extravio
o amor chegou às 15h19m
veio com o vento
abriu portas e torneiras
deixou jorrar o impreciso
farpas esperma crisálidas o fogo
eu vestia-me de anjo
para coroar nossa senhora
quando o amor chegou
em carne viva avalanche
retalhou minha inocência
e me cortou as asas
singelo como um pé de chuchu
esculpiu-me, o amor, na tirania da solidão
ensinou-me o significado da palavra dédalo
sede
o murro & o muro:
o amor abismou-se
nos hematomas
a flecha & a fresta:
o corpo é um copo
de água salgada
nunca mais
repita comigo:
nunca mais
[imagem de kontinuierlich]
Silvana
Guimarães (Belo Horizonte/MG). Socióloga, escritora, redatora/revisora
publicitária, tem textos publicados em revistas nacionais e estrangeiras.
Participou de algumas coletâneas, destacando-se a Dedo de Moça — Uma Antologia das Escritoras Suicidas, que organizou
com Florbela de Itamambuca (São Paulo: Terracota, 2009). Fundadora e editora da
Germina — Revista de Literatura & Arte [www.germinaliteratura.com.br],
Escritoras Suicidas [www.escritorassuicidas.com.br] e do site do escritor
Rodrigo de Souza Leão [www.rodrigodesouzaleao.com.br]. Vive em Belo Horizonte.
[sil.guimaraes@gmail.com]
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