STRAVINSKY
A vida, ainda que hercúlea,
é estreita: não há iluminuras
sem o extermínio de uma estrela.
Em cada ode, o poeta canta
uma morte: como quem recria
uma semente de alegria
no recreio dos segregados.
Rosa primavera sacrificada.
Queremos o insonhável:
a sagração do juízo inicial.
ETERNIDADE
A poesia é avis rara
num mundo raso.
A dúvida faz parte
de cada bago do poema.
O poeta trucida
o coloquial e seus oficiais.
Se o ofício do dia
é um batismo de sangue,
ele não teme as flores
dementes.
Se a lógica dos abutres
aponta para o óbvio,
o poeta agarra-se
ao mito que nunca morre.
POETA
À Silvana Guimarães
Ana gosta
de ficar a sós
com o seu nó
na garganta.
De ficar a sós
com os seus pássaros
nas entranhas.
Se ela rasga
o céu da boca,
a solidão transmuta-se
em poema.
Tito Leite (Cícero Leilton) nasceu em Aurora/CE
(1980). Poeta e monge, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Tem experiência na área de ensino de Filosofia, com ênfase em
Filosofia Política, Ética, Filosofia da Ciência e da Tecnologia. Autor dos
livros de poesia Aurora de cedro
(7Letras, 2019) e Digitais do caos
(Selo Edith, 2016). É curador da Revista Gueto.
Imagens: Wendy Titterton, Giuseppe Arcimboldo,
linco7n (Google)
Profundos poemas. Enorme poeta! Abraço.
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