sexta-feira, 20 de julho de 2012

três poemas

DELÍRIO

Assim
como um cavalo negro
a galope

Mais:

como se lhe caíssem asas
sobre o galope
e seus músculos explodissem
em voo

ou antes ou melhor
cem alados cavalos

E depois
a perdição

– embora frescos
os flancos os lábios o sopro

mas ardentes
as garras em guerra

O efeito
do universo que verbera
uma vez e sempre
amanhã também
em corpos perdidos
sobre estigmas e estames
da morte

agora
distante.

Alberto Bresciani

TRADUÇÃO

Confesso meu amor
imenso às ilhas

Claro está: não falamos
a mesma língua

Não sei se me ouvem
e percebem

mas em meio às ondas frias
vez ou outra
um cardume de enguias
lambe de azul
as pernas, o corpo:
no gosto, no gozo

Eu
imerso.

Alberto Bresciani
imagem de Lightning Volt

SORTE

O destino não nos pertence
nem a deuses, runas
ou a leitoras de entranhas

À luz
inutilmente
perseguem a nudez
a tardia indisciplina dos corpos

Como agora
arriscar as veias?
Onde se apaga
o vazio?

Soube de búfalos
que trocam o cansaço
pela própria morte.

Alberto Bresciani



31 comentários:

  1. Alberto,
    Você é um poeta de verdade. Minha admiração só aumenta a cada poema lido. Beijo

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  2. Meu irmão (não é metáfora)

    Parabéns pela nova manifestação cultural.

    Desejamos SUCESSO (o que já está ocorrendo)

    Carlos Bresciani,Vivian Mockdece,Carlos Victor Bresciani,Larissa Bresciani,Maria Lúcia Fontan.

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  3. Três belos poemas, em movimento!
    Parabéns!

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  4. Que espirito baixa em você quando você poema?
    Que mágica você faz quando se torna líquido, fluido?
    Que pacto você fez com a língua para ela ser sua serva?
    Amigo querido, não responda. Guarde o segredo que o torna único e absurdamente fértil. Beijos

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    1. Generosidade única e absurdamente extensa essa que é sua, Ana Maria, caríssima amiga. Obrigado.

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  5. A cada conto lido fica a vontade de ler o próximo, todos lindos! Parabéns Alberto.
    Bárbara Nunes

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  6. Que boa visita, querida Bárbara! Obrigado!

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  7. Parabéns, Alberto. Você pode arriscar tudo, até as veias. Mesmo que não consiga apagar o vazio,com certeza, vai acender nossa admiração pelo seu talento e capacidade de surpreender sempre com poemas lindos e bem estruturados. Minha admiração cada vez maior.

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    1. Basilina, a poesia no comentário que, sei, é fruto da amizade e de seu coração pleno de lirismo!

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  8. O corpo incorpóreo do amor nos salva e perde, emerge e submerge em êxtase e exaustão. Bela a metáfora dos búfalos, poemas cortando a carne e a alma. Bela a língua mítica do poeta. Parabéns.

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    1. Amneres, ainda aqui, a poesia salta da generosidade dessa querida amiga poeta! Obrigado pela visita!

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  9. Três poemas certeiramente afi(n)ados, Alberto. São peças de poesia quase pura. (Digo quase porque não sei se há coisas puras.) Construções de música, ar respirado e silêncio. Ou, em outras palavras, tudo para sentir, nada para explicar. Excelentes!

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  10. acho que tudo já foi dito a respeito desses três belíssimos poemas, Alberto. poemas que falam aos sentidos, evocando imagens poderosas. e, aqui dentro, a música.

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    1. A gentileza de Mariza Lourenço sempre acrescenta! Obrigado, Poetíssima!

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  11. Realmente maravilhosos. Muitas perguntas me vêm à cabeça, dentre elas, peço licença a Ana Maria Lopes para repetir aquela feita por ela: "Que pacto você fez com a língua para ela ser sua serva?"

    Bernadette

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    1. Obrigado, Bernadette! O pacto tinha por fim conseguir amigas e amigos especiais. Está dando certo...

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  12. Muitos sentidos, músculos , flancos, lábios. Imersa em guerras e sexo, em imagens poderosíssimas fiquei.Confessar a quem ? às ilhas? Sinto-me cansada também...mas não sou cavalo nem bufálo. Carla Andrade

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    1. Confessamos mistérios às ilhas, Carla. Confessamo-nos uns aos outros. Obrigado.

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  13. Palavras, sentidos, emoção. Nada fica impassivel ao encanto dos poemas. Parabens.

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  14. Grande poeta!
    Como um poema permite várias e várias releituras. Gostei do que li e senti.É poesia da melhor qualidade. Prometo revisitar várias vezes para outras releituras.
    Parabéns aos três pelo ótimo conteúdo do blog.

    José Antonio Pereira

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    1. José Antonio, agradecemos muito a sua visita! Obrigado pela gentileza de sempre!

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