quarta-feira, 24 de outubro de 2012

diário das aflições

I

em meu quarto as aflições se igualam democraticamente.

deito-me sem conseguir reconhecer, entre tantas ausências, o pouco que ainda me resta para sonhar.

minha cama é uma ilha cercada de angústia por todos os lados.


II

desfaço-me com os olhos pregados no teto.

(o sono nunca vem quando preciso).

conto carneiros, enquanto penso besteiras, e meu corpo, completamente desperto, dói a dor de quem não encontra uma mão sobre um seio, uma perna entre as pernas.

meu gemido é quase um lamento.


III

segundo alguns manuais, a solidão é caminho para o autoconhecimento.

danem-se todos. estar só é desconhecer outro lado vivo de mim.

o espelho, no canto do quarto, anda embaçado de tanto escutar minhas queixas.

não preciso abrir a janela para saber que a lua está cheia.

uivo.

e este uivo é apelo.



mariza lourenço

[imagem Ash Sivils]

3 comentários:

  1. Minha existencialista predileta, depois de Beauvoir...

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  2. o pior da solidão é não ter com quem compartilhar.
    Porém, não deve nada a ninguém, é livre.
    A liberdade é solitária.

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